A verdadeira propriedade
A VERDADEIRA PROPRIEDADE
Maria Margarida Moreira
O homem é um ser real, revestido de corpo somático que lhe permite o processo de construção de valores ético-morais e aquisições espirituais que o tornam pleno, quanto mais conquista na escala evolutiva com o abandono das mazelas que lhe constituem embaraço ao progresso.
A sua emancipação resulta do esforço que empreende para vencer obstáculos que lhe dificultam o vôo no rumo da plenitude que o aguarda. Etapa a etapa, no entanto, adquire força que o impulsiona a vencer os empecilhos e auto-encontrar-se ao longo da marcha ascensional.
Por instinto de conservação da vida, apega-se aos recursos que lhe passam pelo caminho: afetivos, emocionais, materiais e sem reservas morais suficientes, submete-se-lhes, escravizando-se para depois vencer as ingentes lutas, a situação calamitosa a que se atirou.
A propriedade é conquista que resulta de longas buscas nos relacionamentos humanos, objetivando a harmonia e respeito pelos valores indispensáveis às trocas que fomentam o comércio, que nobilitam a existência e que promove o progresso.
Normalmente, porém, a aquisição digna de cada qual que envida sacrifício e habilidade, conhecimento e labor a fim de adquiri-la pensando de forma previdente nos dias difíceis, da velhice, da enfermidade e da morte.
A sociedade, de alguma forma, estabelece os seus sistemas nos valores e pessoas dos grupos afins (Entidades congêneres e Nações) e seus recursos de modo a facilitar o intercâmbio, bem como a competitividade de produtos e bens de consumo entre as pessoas e povos da Terra.
Isso tem um fim providencial, que é desenvolver a indústria, a ciência, fomentar as artes, facilitar a comodidade e propiciar valores que contribuem para a sobrevivência dos indivíduos e dos grupos humanos.
Portanto, entregar-se a sua conquista é dever de todo indivíduo que pensa e faz parte de uma sociedade. A família depende desses recursos, como a própria criatura, trabalhando em favor da harmonia e do grupamento no qual se encontra colocada.
O risco da posse ou da aquisição da propriedade, não está no fato em si mesmo de os conseguir, mas na maneira como isto se dá, além do que representa emocionalmente.
A posse que leva à riqueza, à fortuna, também facilita os desmandos, o exacerbar dos sentimentos vis como o orgulho, o egoísmo, a vaidade desmedida, a alucinação em detrimento do enriquecimento interior, que se consegue através da abnegação, da renúncia, do devotamento e, sobretudo, da seleção de valores entre aqueles que são eternos e os efêmeros.
Segundo Kardec, “se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem.”
Ele (Deus) faculta a riqueza, proporcionando recursos ao ser humano para desenvolver a consciência e ampliar os sentimentos superiores.
Mais importantes, porém, do que os bens amoedados e acumulados em arcas ou bandos, são aqueles de ordem emocional e espiritual, moral e social: os sentimentos do dever que decorrem da consciência que atua em consonância com as Soberanas Leis da Vida.
São esses tesouros, sem dúvida, mais precisos do que os materiais que podem transformá-los em valiosos empreendimentos salvadores de vida, como a instrução, a educação, a libertação dos vícios em razão do amparo no campo da saúde e do trabalho, propiciando felicidade em toda parte.
Através da postura do amor e da caridade, surge a compreensão de como aplicar-se a riqueza, multiplicando-a em obras que favoreçam a todos os seres com oportunidades de desenvolvimento dos valores internos.
Na pobreza ou na riqueza, o ser adquire experiências valiosas que lhe devem constituir patrimônio de crescimento rumo ao Infinito.
Jesus compreendia a finalidade superior da propriedade, por isso valorizou-a, quando conviveu com os homens de bem e aqueles que possuíam recursos, estimulando-os, porém, a buscarem o reino dos céus, de que se haviam esquecido.
Quando o Mestre Divino se reportou aos ricos, aparentemente apresentando palavras duras, não se deteve somente na referência aos detentores de coisas, moedas, minerais preciosos, propriedades, escravos, mas também, aos possuidores de exacerbado orgulho, de incomum dureza de sentimentos, de rancor, de ódio, de presunção e de avareza, que também, são possuidores de preciosos bens (na sua essência), de que não se dispõem a libertar.
Para que ficasse inviolável a lição, narrou, então, a parábola do rico que era donos de terras, que cuidava de ampliar a fortuna até o excesso, e quando já não tinha mais onde armazenar os haveres, propôs se a dormir e a desfrutar de todos os bens até a exaustão, esquecidos de que naquela noite o Senhor da Vida lhe tomaria a alma.
Aplicar a sã virtude da caridade faz que mais se auto-enriqueça o administrador, do que apenas amealhando nos cofres da usura e da avareza, nos quais se perde totalmente o significado conforme é atribuído pela sociedade aos bens materiais.
Viver o presente-tempo como presente-dádiva em um constante serviço de construção interior, exercendo a ação de enriquecimento geral, é o dever que cabe aos possuidores de riquezas que as tornarão abençoadas pelas contribuições que espalharem em torno de seus recursos.
Portanto, a fortuna, seja c Omo for que se manifeste, é alta responsabilidade para o seu detentor que terá de prestar contas, inicialmente a si mesmo, pelo acordar da consciência responsável, quando desperta e impõe a culpa pelo seu mau emprego, e diante da Consciência Cósmica, da qual ninguém se evade por presunção, capricho ou infantilidade emocional.
BIBLIOGRAFIA
FONTE VIVA - Francisco Cândido Xavier – ditado pelo espírito Emmanuel. Lição 09.
PALAVRAS DE VIDA ETERNA. Francisco Cândido Xavier – ditado pelo espírito Emmanuel. Lição 14.
PÃO NOSSO. Francisco Cândido Xavier – ditado pelo espírito Emmanuel. Lições 16 e 18.
CAMINHO, VERDADE E VIDA. Francisco Cândido Xavier – ditado pelo espírito Emmanuel. Lições 56, 58 e 59.
O PENSAMENTO DE EMMANUEL. Francisco Cândido Xavier – ditado pelo espírito Emmanuel. Lição 30.
LIVRO DOS ESPÍRITOS. Cap. IX, item 4- questão 811 (Desigualdade de riquezas).
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO- cap. XVI- item 9, cap. XVII- item 7.
JESUS E O EVANGELHO À LUZ DA PSICOLOGIA PROFUNDA. (PROPRIEDADE E AVAREZA). Psicografia de Divaldo P. Franco.
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